A evidência clínica confirmatória resultante de estudos em irmãos sugere que a intervenção precoce proporciona diversas oportunidades de melhorar os resultados dos pacientes por meio do tratamento específico da doença e do rápido início da TRE, se disponível.1-6
A TRE, de início precoce ou mais tardio, demonstrou melhorar os principais parâmetros clínicos, como a resistência e as medidas pulmonares, que são essenciais para a qualidade de vida, a manutenção da capacidade de caminhar e a realização das atividades diárias.7,8
A nova era de tratamento de doenças genéticas complexas e progressivas, como os distúrbios da mucopolissacaridose (MPS), concentra-se na coordenação eficiente da equipe de tratamento de cada paciente no medical home [cuidados médicos centrados no paciente].1
Geneticistas e/ou especialistas em metabolismo costumam estar no centro da equipe médica e ajudam a coordenar o tratamento multidisciplinar e um planejamento de tratamento individualizado.2,3
Em razão da alta prevalência de manifestações oculares e do potencial para intervenção cirúrgica relacionada ao transplante de córneas, os oftalmologistas devem participar da equipe médica multidisciplinar.4
Muitas MPS possuem diretrizes disponíveis sobre o tratamento e recomendações consensuais específicas para cada especialidade referente ao tratamento da MPS ao longo da vida. No geral, essas diretrizes recomendam3,5:
Avaliações precoces e contínuas de uma equipe de tratamento coordenado podem melhorar os resultados dos pacientes e ajudar a prevenir danos irreversíveis.5
As diretrizes para a população geral com MPS recomendam avaliar a função oftalmológica após o diagnóstico e quando desencadeada por anomalias clínicas.3,6
Devido à natureza progressiva da MPS e do alto risco de manifestações oculares em pacientes com a doença, recomenda-se que os pediatras encaminhem as crianças com MPS para avaliação oftalmológica no momento do diagnóstico, em seguida a cada 6 a 12 meses durante a idade pré-escolar e, por fim, anualmente até os 18 anos de idade.4 Além dos exames oftalmológicos anuais, os oftalmologistas devem realizar as seguintes avaliações regularmente6:
A tabela abaixo detalha os exames básicos e opcionais para a avaliação oftalmológica de crianças com MPS.
Os oftalmologistas devem estar atentos às possíveis dificuldades com certas avaliações contínuas4:
Esses problemas nos diagnósticos podem ajudar a explicar porquê há um conhecimento limitado dos benefícios e riscos associados à terapia antiglaucoma em crianças com MPS. Alguns relatórios revelaram melhoras na IOP ou na visão após tratamento médico ou cirúrgico do glaucoma, enquanto outros tiveram menos êxito nos resultados.4
Para mais detalhes sobre essas avaliações oftalmológicas básicas e opcionais em crianças com MPS, consulte as diretrizes de tratamento.
O monitoramento contínuo pode ajudar a otimizar os resultados dos pacientes por meio do tratamento crônico dos sintomas oculares, que podem incluir os seguintes4:
Causas não oftalmológicas do comprometimento visual, como comprometimento visual cerebral, também podem ocorrer em pacientes com MPS.4
Intervenções simples como o uso de óculos ou óculos fotocromáticos prescritos podem melhorar consideravelmente a qualidade de vida das crianças com MPS.4
É importante ressaltar que as manifestações oculares foram descritas em todos os subtipos da MPS, mas são particularmente comuns em pacientes com MPS I, VI e VII.4
Devido a diferenças fenotípicas entre os subtipos da MPS, as avaliações oftalmológicas devem ser ajustadas à situação individual do paciente, levando em conta sua idade e a presença de fatores influenciáveis, como:4
A frequência das avaliações e o envolvimento de especialistas específicos variam entre os diferentes tipos da MPS. Para pacientes com doenças da MPS associadas a complicações neurodegenerativas e cognitivas primárias, como MPS I, II e III, são recomendadas avaliações neurocomportamentais e psiquiátricas adicionais e regulares.5,7,8
Além de avaliações específicas por especialidade que devem ser feitas para facilitar resultados positivos no futuro para pacientes com MPS, passos importantes podem ser dados pelo médico coordenador, geralmente o geneticista e/ou especialista em metabolismo, em relação à saúde global. Sua função na educação de outros profissionais da saúde (ex.: dentistas, fisioterapeutas, pediatras, médicos da família) e das famílias em relação à doença e às estratégias gerais de tratamento é essencial e deve incluir:
Avaliações específicas por especialidade, bem como exames físicos de rotina e intervenções de saúde geral, devem seguir as diretrizes recomendadas, que podem variar entre os subtipos de MPS.3
Melhorias no tratamento de distúrbios da MPS contribuem para os resultados a longo prazo dos pacientes, necessitando de novas abordagens para o tratamento vitalício.
À medida que os pacientes envelhecem, alguns podem começar a administrar seu tratamento, tornando crucial a orientação médica na transição para o contexto adulto.3 Os médicos devem assegurar:
A transição do tratamento pediátrico para o adulto e o tratamento adulto a longo prazo são áreas críticas a serem consideradas no planejamento do tratamento para pacientes adolescentes e adultos.3 As considerações do tratamento de longa duração são melhor abordadas em um centro com experiência considerável em MPS e requerem coordenação cuidadosa entre as diferentes especialidades.3,10 As questões a longo prazo incluem, mas não se limitam a:
O tratamento a longo prazo das MPS –incluindo avaliações contínuas e estratégia de transição do tratamento pediátrico para adulto específica do centro– pode levar à melhora prolongada da qualidade de vida e a um futuro melhor para seus pacientes.3,10-12
Uma vez que as manifestações clínicas dos distúrbios da mucopolissacaridose (MPS) são multissistêmicas, é necessária uma abordagem multidisciplinar específica ao paciente para reconhecer e tratar, de maneira proativa, as complicações como transplante de córneas, que pode ser necessário em pacientes com MPS.1,2
Os pacientes com distúrbios da MPS costumam passar por uma série de intervenções cirúrgicas ao longo da vida. Um estudo do curso natural, que avaliou uma coorte de 325 pacientes com Morquio A (MPS IVA), constatou que mais de 70% deles tinham sido submetidos a pelo menos um procedimento cirúrgico.3
Os pacientes com MPS apresentam alta taxa de mortalidade perioperatória devido a múltiplos fatores, incluindo obstrução das vias aéreas superiores e inferiores, instabilidade da coluna cervical, comprometimento respiratório, morbidades cardiovasculares e infecções frequentes.3-5 Por exemplo, complicações cirúrgicas resultaram em uma taxa de mortalidade de 11% em pacientes com Morquio A (n=27).6
Criar um planejamento cirúrgico é essencial e envolve uma equipe multidisciplinar de especialistas que, idealmente, possuem experiência no tratamento de pacientes com MPS.4
Além das diretrizes de tratamento, os especialistas devem consultar as diretrizes ortopédicas e cirúrgicas.
Os benefícios esperados do transplante de córneas em pacientes com opacificação corneana devem ser ponderados em relação aos riscos desse procedimento, que incluem2:
No geral, os benefícios e os riscos de procedimentos oftalmológicos em pacientes com MPS são menos compreendidos.2
Assim como no caso de opacificação corneana, os oftalmologistas devem ponderar a chance do resultado bem-sucedido em relação aos possíveis riscos ao decidir sobre o tratamento de glaucoma em crianças com MPS.2
A natureza progressiva da MPS e as diversas complicações que podem surgir ao tratar problemas oculares em crianças com MPS exigem coordenação cuidadosa e monitoramento contínuo do impacto de todo tratamento.2
A avaliação dos riscos cirúrgicos e o monitoramento pré-operatório são componentes fundamentais de um planejamento cirúrgico adaptado e podem reduzir os riscos de resultados cirúrgicos negativos e mortalidade em pacientes com MPS.4,9,10
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